A festa nunca acaba: Madchester ‘89

Fábio Mello
2 de set. de 2019
3 min de leitura

O ano era 1989 e no Reino Unido começou a fervilhar um novo movimento. Seria o chamado “Segundo Verão do Amor” com discos e músicas inesquecíveis, além de muitas drogas, arrepios e dores de barriga, que formariam uma revolução musical tão grande quanto foi o punk rock 20 anos antes.

Com as sequências eletrônicas, poucos vocais e muito sampling (trechos de filmes, músicas, etc) inseridos, as canções embalaram baladas lisérgicas que se estendiam até altas horas da manhã – as raves.

Os primeiros clubes começaram a surgir em 1987 na Inglaterra, com o objetivo de apenas tocar música acid house – uma derivação da house music americana, sobretudo de Chicago e Detroit.

O movimento começou a se popularizar cada vez mais e uma cidade se tornou o epicentro de tudo com bandas e casas noturnas que marcaram uma época: Manchester.

Nova Ordem

A cidade já era famosa pela sua cena musical com bandas importantíssimas como Joy Division, New Order, The Smiths, The Fall e Buzzcocks. E foi justamente o New Order que encabeçou tudo, principalmente com o seu clube, o Haçienda, verdadeira Meca da acid house.

Na época, a banda vinha de uma coletânea (o Substance 1987) com músicas que faziam muito sucesso nas pistas, sobretudo “Blue Monday”, “Bizarre Love Triangle”, “Temptation” e “True Faith”. Em janeiro de 1989, porém, eles deram um passo além e lançaram o sublime Technique, considerado por muitas revistas especializadas como seu melhor disco.

Technique já abre com “Fine Time”, a música mais acid de toda história do New Order. Em meio a faixas acústicas com “Love Less” e “All The Way” havia outras eletrônicas como a genial “Round and Round” (uma homenagem ao techno de Detroit) e “Mr. Disco”. Um clássico havia sido criado.

Na esteira

Na mesma época surgiram outras bandas importantes e que deram a sua contribuição para a cena acid house, mesmo não sendo integralmente eletrônicas. Um dos casos foi o Happy Mondays, que lançou seu primeiro disco Bummed, que contém a música “Wrote for Luck”, que ganhou um remix de Vince Clarke (do Erasure) e tomou de assalto as pistas. Na sequência, os Mondays lançaram um EP com sete faixas, incluindo remixes de Paulo Oakenfold e Andrew Weatherall.

Stones

Em março de 1989 chegou às lojas o LP de estreia dos Stone Roses. Foi um álbum que marcou profundamente a música no Reino Unido. Era um tratado rock’n’roll com influências principalmente dos anos 60, com psicodelismo e influências do rock alternativo. Mas havia uma diferença, a dance music. Em uma das músicas, “Fools Gold” – que foi lançada somente em single – os Roses extrapolaram os limites entre a galera rocker e os ravers.

Eram mais de 9 minutos de pura viagem psicodélica, com uma batida eletrônica, guitarras wah wah, uma linha de baixo fantástica de Mani e vocais esparsos de Ian Brown. Era tudo que o público queria naquele momento. O crossover ficou ainda mais claro com “I am the resurrection” (que está no disco), com as viradas de baterias colossais de Reni no final.

A constatação veio no festival Spike Island, em 1990. Com uma escalação de atrações formada especialmente por DJs e outros artistas de música eletrônica, o Stone Roses foi chamado para fechar a noite – e se consagrou. O estilo dos músicos, abandonando o visual roqueiro com calças jeans e jaquetas e adotando roupas de clubbers de estilo shaggy, com calças largas estilo baggy e o icônico chapéu bucket de Reni foram também essenciais para mostrar ainda mais a influência do Stone Roses na cultura acid.

Madchester

Bandas como The Stone Roses, Happy Mondays, Inspiral Carpets, James, The Charlatans e A Guy Called Gerald formaram a chamada turma da Madchester. O New Order, embora seja da cidade, é considerado apenas uma grande influência para todas as bandas que se seguiram.

Três discos:

Bummed – Happy Mondays (1989)

New Order – Technique (1989)

The Stone Roses – The Stone Roses (1989)

Influência direta:

Primal Scream – Scremadelica (1991)

Happy Mondays – Pills ‘n’ thrills and bellyaches (1991)

Filme:

24 Hour Party People (2002)

Direção: Michael Winterbottom

Roteiro: Frank Cottrell Boyce

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